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20 abril 2011

Tirando a pele da Arezzo?


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Dia 14/04/11 a Arezzo lançou uma mini-coleção chamada de "PELEMANIA" e colocou a novidade em suas redes (twitter, facebook). A marca com certeza não esperava a reação pública e a péssima publicidade levantada com a notícia. A comoção aumentou ainda mais com a montagem feita pela ONG Salvacao e se tornou trendind topic no twitter. Foi feita uma página no facebook de boicote a Arezzo e surgiu até uma tentativa de protesto em frente à uma loja.

A peças da coleção com pele de raposa foram recolhidas das lojas e o site da Arezzo traz a seguinte mensagem:

"Prezados consumidores,

A Arezzo entende e respeita as opiniões e manifestações contrárias ao uso de peles exóticas na confecção de produtos de vestuário e acessórios. Por isso, viemos por meio deste nos posicionar sobre o episódio envolvendo nossas peças com peles exóticas - devidamente regulamentadas e certificadas, cumprindo todas as formalidades legais que envolvem a questão.Não entendemos como nossa responsabilidade o debate de uma causa tão ampla e controversa.
Um dos nossos principais compromissos é oferecer as tendências de moda de forma ágil e acessível aos nossos consumidores, amparados pelos preceitos de transparência e respeito aos nossos clientes e valores. E por respeito aos consumidores contrários ao uso desses materiais, estamos recolhendo em todas as nossas lojas do Brasil as peças com pele exótica em sua composição, mantendo somente as peças com peles sintéticas.

Reafirmamos nosso compromisso com a satisfação de nossos clientes e com a transparência das atitudes da Arezzo.

Atenciosamente,
Equipe Arezzo"

Até esse ponto, creio que a controvérsia poderia ter morrido, mas o presidente da marca resolveu se pronunciar em uma entrevista à Folha no dia 18/04.
Algumas afirmações feitas por Anderson Birman (comentários meus em azul).

"Em todos os editoriais de moda de todas as revistas do mundo, inclusive nas brasileiras, esse fenômeno do uso de peles está sendo veiculado. Todas as marcas estão usando, é um tendência forte" Eu realmente vi uma tendência em sites de moda para o uso de PÊLOS, porém, acredito sinceramente q é possível vc usar pêlo sintético, além disso, esse desculpa é exatamente o tipo de pensamento que faz com que ninguém tenha coragem de ir na contra-mão, "ora, todos estão fazendo, pq ñ posso fazer tb?"

"A pele de raposa usada nos produtos é de criatório, não é de animal selvagem, não tem dano nenhum a natureza, isso é que dá sustentabilidade, é o uso gerenciado e controlado, mas gerou essa polêmica toda que acho que deve ter sido feita por ambientalistas de plantão com os quais não vou me expor para debater isso, tirando o foco do grande trabalho que a gente tem em uma coleção de inverno maravilhosa com milhares de outras possibilidades. Então, eu preferi recuar a ter que abrir esse debate sobre se eu acho certo ou não acho certo o uso de pele de animal." Ñ há nenhum dano à natureza (leia-se, raposas de criadouro ñ são parte da natureza). E eu acreditando q sustentabilidade era uma coisa boa?! Achei q ser sustentável incluía não causar sofrimento desnecessário a outros seres.

"O uso da pele do coelho também foi contestada, vocês vão retirar também?
Não, só a pele de raposa. Nosso entendimento é que todo animal que está na cadeia alimentar, não tem como. Você vai a um restaurante e come coelho no mundo inteiro. É produção de proteína animal, é uma coisa que tem quem goste e quem não goste, mas está na origem do ser humano." Deu pra entender o q eles queriam dizer com "pele exótica" no texto da Arezzo? Ou seja, pele de coelho não é exótica, então não tem nada de mais arrancar o couro do bicho, já que ele é comestível. Aliás, alguém me explica essa frase: "está na origem do ser humano"? O que é que está? Comer coelho? De novo, se o mundo faz, por que não fazer também?

"E é um negócio insignificante no contexto da Arezzo para poder servir de instrumento do debate, eu achei melhor recuar do que ceder tão pouco a um debate que eu não acho que seja construtivo a ninguém. Podemos até em um outro tempo, outra hora, pensar mais sobre o assunto, sou absolutamente sensível a ter um planeta cada vez mais agradável, bonito e preservado." Oras, é claro que esse debate não é construtivo! É como debater se deveríamos usar petróleo com donos de refinaria! Em outro tempo, quer dizer, quando não for a Arezzo que estiver sob holofote tão negativo, podemos jogar pedra nas outras empresas que não são "sensíveis a terem uma planeta preservado". E por fim, o que seria uma planeta preservado para alguém que acha sustentável a criação de bichos para arrancar o couro? Preservar o quê? Os pinguins azuis da Antártida? Demagogia mais explícita, impossível.

Enfim, gostaria de considerar que uma coleção é sempre baseada em estudos de público, tendências, etc. Antes do lançamento, são várias pessoas trabalhando por meses para desenvolver os produtos, a campanha, etc. NINGUÉM SE PERGUNTOU QUAL SERIA A REAÇÃO DOS CONSUMIDORES? Acho improvável.


Por último, um pensamento mais pessoal ainda, no qual não pretendo ofender ninguém, mas gostaria sinceramente que as pessoas pensassem: vi em vários sites comentários condenando a Arezzo, seu presidente, sua equipe e sua campanha, me pergunto: Essas pessoas são vegetarianas? Essas pessoas usam couro de bovinos? Se sim, ótimo. Mas caso contrário, sinceramente, faz diferença o bicho que está sendo morto? Aqueles que protejem as baleias, mas comem as vacas - vejam que não estou dizendo que os vegetarianos são pessoas melhores, nem nada disso, apenas estou questionando a coerência na distinção entre aqueles que você salva e aqueles que você come. Ficar apenas ofendendo a Arezzo e as empresas que usam pele quando você mesmo, no fundo, não aplica isso em sua vida, é pura hipocrisia.

Ps. Ñ estou defendendo a Arezzo de forma alguma, nem qq outra empresa de exploração animal (de fazendas pecuárias a pet-shops) ou ambiental ou social, meu objetivo é unicamente pensar se estamos sendo coerente em nossas ações cotidianas...

Imagens:
Appbahia Luisamell Epocanegocios


Em tempo, uma atualização, depois da Arezzo, agora a Le Lis Blanc está com coleções com peles e diz que não vai retirar seus produtos do mercado pois eles estão dentro da lei (mesmo argumento da Arezzo). Eu não tenho mais comentários para essas empresas, se elas acham que a lei é mais importante que a ética, o que fazer?

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