bailarina azul
Eu realmente adoro os "porquê não", eu sei que não é positivo e eu deveria reforçar o sim, mas o não é tão mais chamativo...
Voltando ao assunto do post: bailarinas adultas! Eu nunca gostei de balé, sinceramente, nunca pensei que um dia ia gostar tanto da idéia de uma sapatilha de ponta (adoro meus pés, a idéia de amassar meus dedinhos era horrenda), ainda mais quando ainda falta um tempo para subir nas benditas (especialmente considerando que quem vos escreve está com o pé quebrado).
Enfim, a pessoa era bailarina na escola primária, depois dos 4 anos abandonou as sapatilhas e, aos 25 resolve voltar. Esse ou qualquer um dos um milhão de motivos pelo quais a pessoa quer fazer balé depois de adulta. Eu vou dizer porque isso é estúpido:
- Balé clássico é caro! Eu posso enumerar várias academias muito mais baratas ou outros tipos de dança mais acessíveis, assim entenda, as aulas são caras. Além da mensalidade você quer ser uma bailarina linda igual às que vem em caixinha de música, então você compra um collant, uma meia rosa (claro) e um par de sapatilhas. Como você se envergonha das celulites, compra também uma saia, uma rede para o coque e já que está na loja, um chaveirinho de sapatilha – porque agora você é uma bailarina, oras! – facilmente você já gastou mais de R$150,00 ou R$200,00. Isso tudo sem mencionar que a cada apresentação você precisará de um figurino que custará uns R$300,00. Ao subir nas pontas, existem pontas mais baratas, mas você sabe que os seus pés são importantes, então você compra uma intermediária que está mais ou menos em R$170,00, sonhando com uma Gaynor, claro.
- Você dificilmente será uma bailarina profissional. Bailarinas profissionais começam na idade no qual você largou as sapatilhas, elas são criadas bailarinas e sua aposentadoria geralmente vem na idade no qual, agora, você pensa em voltar. Nas apresentações e espetáculos da escola, provavelmente você será do corpo de baile, como quando as crianças são árvores ou bichinhos da floresta porque só pode haver uma princesa na história. É cruel, mas é real. Os solos e pax-de-deux serão das meninas novas que tem muita carreira pela frente. Você já está velha e sua professora provavelmente será mais nova do que você. Talvez você vá para uma escola no qual não te puxem porque você não tem “futuro”...talvez você tenha professores condescendentes por causa da onde de abrir turmas de iniciantes adultos...
- É um exercício difícil mental e fisicamente. Você provavelmente não tem alongamento suficiente, não consegue guardar os exercícios de rotina porque tem muitas coisas na cabeça, perde o ritmo da música e faz os passos mais rápido ou devagar do que deveria. As câimbras acabam com você (mesmo você prometendo que vai comer bananas até virar um macaco peludo de sapatilhas) e você se sente ridícula fazendo sautés. Cada olhada no espelho para corrigir um desvio nas costas desalinha sua linha de perna. Fazer um developé na altura da panturrilha é um suplício inimaginável. E quem disse que você consegue fazer uma terceira posição decente? Sim, existem aulas nos quais você só quer ir pra casa ver tevê e engordar.
- Se na vida real os estereótipos são chatos, no balé isso fica insuportável. Vocês lembram do acontecido em 2003 com uma bailarina do Bolshoi demitida por ser gorda (1,69 e 50kg)? Pois é, isso é real. Na minha escola eu sei de um caso de uma bailarina com técnicas excelente que tem o biótipo de gorda; não que ela coma demais, ela tem ossos grandes e o preconceito sobre isso é real. Isso significa que, se você tem uma ligeira barriguinha, ao colocar seu collant, você vai se sentir um personagem de the biggest looser. E o mais engraçado é que o estereótipo mulher brasileira gostosa não é, de forma alguma, o estereótipo de bailarina.
Ou seja, você trabalha o dia todo, corre para passar na padaria antes de chegar em casa, se estressa com o tráfego e um motorista mal educado, chega em casa cansada, toma um banho, retoca uma unha que estragou na gaveta do escritório, come a santa banana (com um sucrilhos cheio de açúcar) e não pára para sentar – se sentar você desiste – isso sem mencionar as que tem filhos. Mas se você faz tudo isso, pega sua mochila e já vai rodopiando pra escola, parabéns pra você!
Todas essas limitações só fazem com que a emoção de ver a perna levantar mais um pouquinho, a quinta chegar a zero e você lembrar o último exercício na barra te deixe cada vez mais feliz. Quando você entra no carro com a perna tremendo e suando em bicas, mas tem um sorriso enorme porque se sentiu bem fazendo aquilo que gosta. Balé também é isso, um prazer solitário de ser feliz com o próprio corpo. E se você realmente gosta, vai entender que este post não foi para te desmotivar e sim para que você lembre das dificuldades que você supera todo o tempo. Parabéns pra nós, lindas bailarinas que não temos medo de voar...
Algumas imagens eu não lembro de onde são porque são mais antigas:
Savonbleu Locarcomballet Vivendoavida
Savonbleu Locarcomballet Vivendoavida
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