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06 abril 2012

Precisamos falar sobre o Kevin


Ufa, finalmente um post que não seja sobre Londres (rs). 


Eu li o livro da Lionel Shriver em 2010, logo que foi lançado. A capa me chamou atenção e o título era provocativo. Já no livro eu fiquei tensa, sentia o estado de despero de Eva - mãe de Kevin - como se ela fosse uma amiga próxima. O menino era tão infernal que desejei dar-lhe umas palmadas várias vezes (e quem me conhece sabe o que penso sobre violência física como resolução de conflitos infantis). O choro constante, a birra, o aparente entendimento da dinâmica do mundo adulto que leva anos para se aprender, tudo na personalidade de Kevin é irritante. E mesmo assim, Eva tenta. Ela se sente mal por não "amar" o filho, por não querer que ele exista, por ele ocupar um espaço grande no seu casamento, por ela achá-lo um monstro desde muito pequeno. 

Você pensa que os fatos que ela conta sobre os indícios da pesonalidade destrutiva e destruidora de Kevin são suficientes para prever o que aconteceria no futuro e logo depois pensa que certas coisas são simplesmente imprevisíveis. Você pensa que ela descreve as cenas para mostrar que existia um motivo para que ela não o enxergasse com todo aquele amor maternal cinematográfico, quase como uma desculpa para si mesma, e pensa que você talvez fizesse o mesmo. Depois você lê melhor e acha que na verdade, ela não tem provas de nada, Kevin podia ser uma criança perfeitamente normal e o fato de sua mãe vê-lo como um intruso é que fez com que ele se tornasse um psicopata. Quem disse que foi ele que fez com que a menina se coçasse? E daí que a babá também achava que ele chorava muito?
Quando você lê o livro, você se tortura como Eva. E se acontecesse com você? Moralmente você não pode odiar seu filho, você DEVE se esforçar para amá-lo, isso é consenso geral. Então você se dói, pela luta que é fazer o que é certo e o que você quer fazer.

Mas tudo o que eu disse acima, é somente sobre o livro. Fiquei interessada em saber como a diretora conduziria a estória para manter a tensão e o filme é tão pesado quanto Cisne Negro. A cor vermelha que aparece o tempo todo dá um tom arrepiante na trama e você espera sangue o tempo todo. O filme é tão lento que você se pergunta se já começou depois de uns vinte minutos. Mesmo assim as memórias de Eva te puxam e só dá para entender o tempo pelo cabelo da Tilda Swinton. No entanto, só o tempo. É difícil dizer o que é fato e o que é a interpretação da personagem. As imagens vão e voltam, ás vezes borradas e ás vezes sem explicação nenhuma. São poucos diálogos e os atores que interpretam Kevin, além de parecidos, são assustadoramente maléficos.

A única coisa que eu não gostei no filme foi uma das cenas finais, uma cena excessivamente explícita com o pai e a Celia que podia ter sido feita de uma outra forma. Outros aspectos do livro foram bem conduzidos, como a relação aparentemente normal de Kevin com os outros, inclusive seu pai ou as tentativa de Eva de se aproximar do filho. Destaque especial para a insinuação de que ele tenha sido o responsável pela perda do olho da irmã. Ouvi críticas de que esse foi o melhor trabalho de Tilda Swinton, eu não a acho particularmente expressiva para ser sincera, contudo ela interpreta Eva de uma forma bem competente.

A redenção no livro não é tão explícita e terminei o filme com uma sensação um pouco menor de que vi algo que não devia, algo incômodo. Acho que ambos são positivos quando fazem você se perguntar: a culpa é sempre dos pais? O problema é sempre má educação, pouco afeito, muita disciplina? Ou existem pessoas que nascem más? Será que mesmo estas não podem ser conduzidas?

Nem Shriver nem Ramsay tentam responder as perguntas, no fim o que sobra é sempre: e se o filho fosse meu?



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